A perda física de Ariano Suassuna fez-me resgatar questões que, se não atenta, adormecem lentamente.
Seu legado é imenso e a esperança é que possa ser perpetuado em nosso imaginário, refletido em nosso cotidiano e em nossa maneira de fazermos cultura, afinal, foi ele um férreo defensor da cultura brasileira, fato que se reflete até a última de suas aulas-palestras.
Obras, pensamentos, tudo nele sempre pulsou a valorização do que genuinamente é produzido no Brasil, principiando pelo amor à Língua Portuguesa, passando pela riqueza de nossos ritmos musicais e culminando com personagens tão próximos de nossa identidade, que por vezes achamos ser verdade o que é ficção, ou ressoa ficção aquilo que é verdadeiramente a essência.
As histórias contadas e vividas por Suassuna nos aproximam, num momento ou noutro, de nossas raízes. Não raízes fabricadas, porque aí nem são raízes, mas por aquelas que, ao ter contato, nos tocam sem pedir licença, nos envolvem como que... falando nossa língua!
Assim é quando narra a situação do escritor brasileiro e, no caso, coloca-se como exemplo. Disse que se tornou conhecido em razão de sua obra, O Auto da Compadecida, ter sido objeto de seriado na televisão. Mesmo assim, por várias vezes "o reconheceram", no entanto, na pele de outro famoso. Uma vez foi confundido com Rubem Paiva (que ele não conseguiu descobrir quem seria), outra, com Drauzio Varella, e por aí vai. A partir daí vai traçando um perfil de conhecimento e reconhecimentos que nós, brasileiros, costumamos ter quando a personalidade é estrangeira, o inverso ocorrendo quando se trata de alguém de nosso país.
É impossível não resgatarmos nossa autoestima ouvindo seus ensinamentos; é difícil não nos interessarmos por nossa história, nossos artistas, poetas, músicos e atores, quando apreendemos o que ele transmite. Talvez por isto ele aceitasse (como disse em uma das palestras ministradas ano passado em Vitória da Conquista, Bahia) viajar de avião (fato que detestava): porque acreditava que falar para os jovens pudesse contribuir para um pensamento mais conhecedor de nossa cultura e para um olhar crítico sobre o que nos é introjetado goela abaixo.
Avesso à vaidade, declarou que o riso é que o ajudou a não se tornar vaidoso, pedante. "O que eu tenho de palhaço dentro de mim, me salva".
Renata Iacovino, escritora e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br /
http://reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br
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