Paulinho, o da Viola, um dos compositores de nossa MPB pertencente à linhagem dos letristas-filósofos, que bebeu na fonte de grandes personalidades, como Cartola, Jacob do Bandolin e Pixinguinha, reúne em sua obra verdadeiras pérolas, que acabam morando no rol das composições que se eternizam, transcendendo tempo e espaço.
Falando em tempo, este é um dos temas recorrentes em suas composições, de melodias apuradas e singulares.
Quem não se lembra de: "Dinheiro na mão é vendaval/É vendaval/Na vida de um sonhador", versos de Pecado Capital, música tema de abertura da novela homônima, que foi ao ar em 1975.
Dono de um ótimo vocabulário, aliado a rimas típicas do que encontramos na melhor literatura, Paulinho esbanja refinamento em sua maneira mui modesta de ser.
Em Retiro, é fácil encontrar identificação: "(...) Meu tempo às vezes se perde/Em coisas que não desejo/Mas não repare esse lado/Pois meu amor é o mesmo/Nos momentos de carinho/Eu me desligo de tudo/Nos braços de quem se ama/É fácil esquecer o mundo".
"Solidão é lava/Que cobre tudo/Amargura em minha boca/Sorri seus dentes de chumbo/Solidão palavra/Cavada no coração/Resignado e mudo/No compasso da desilusão". Como passar superficialmente frente a versos que tocam tão diretamente nossa alma, como em Dança da Solidão?
Mas foi com Foi um Rio que Passou em Minha Vida, de 1970, que se tornou popular. Paulinho a compôs em homenagem à Portela, pois anteriormente havia composto Sei Lá Mangueira, em homenagem a outra escola. Como um bom portelense, não quis deixar nenhum mal entendido no ar, e fez a música que se tornaria um hino da escola azul e branca: "Ah, minha Portela/Quando vi você passar/Senti meu coração apressado/Todo o meu corpo tomado/Minha alegria a voltar/Não posso definir aquele azul/Não era do céu/nem era do mar/Foi um rio que passou em minha vida/E meu coração se deixou levar".
A serenidade de Paulinho nos faz querer ouvi-lo até de manhã, sem nenhum cansaço, apenas bons sambas nos braços.
E que bom poder ser abraçada por suas canções, que me aproxima um pouco mais do que sou e do meu tímido lado bom.
Ouvir Paulinho dá vontade de empunhar o violão, cantar e tocar, venerando o samba e a nossa música, naquilo que ela tem de mais pura e rara.
"Tanta coisa que eu tinha a dizer/Mas eu sumi na poeira das ruas"...
RENATA IACOVINO, escritora, poetisa e cantora /reiacovino.blog.uol.com.br /reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br
OS MEUS LINKS