"(...) Eu só não consigo escapar/do movimento frenético da vida,/pois, se os passarinhos/não bicam o tempo todo/a delícia das frutas/é porque, vez por outra,/brigam por elas/com bicadas muito semelhantes/a estas que a vida me dá...".
Foi pensando nesse frenético movimento da vida que me veio à lembrança estes versos da poeta e amiga Valquíria Gesqui Malagoli. Lá fui eu resgatá-los de seu livro OciosoCio, de 2011, muito embora este poema - Livre - tenha sido escrito pelos idos de 2006.
A sensação que ela me tem provocado - a vida - também me carregou a uma música de Milton Nascimento e Fernando Brant, da qual destaco este fragmento: "São só dois lados/Da mesma viagem/O trem que chega/É o mesmo trem da partida/A hora do encontro/É também despedida/A plataforma dessa estação/É a vida desse meu lugar".
E tantas perguntas vêm-me à mente...
Ando reencontrando pessoas que não imaginava mais rever... Ando me despedindo sem despedidas de tantas outras... Ando encontrando pela primeira vez algumas outras que pareço já ter conhecido, sem conhecer...
O nascer e o renascer de encontros quase sempre nos enchem de novidades e é como se nos renovássemos e descobríssemos novos de nós mesmos. Ou até nem novos, mas adormecidos. Adormecidos nós.
Adormecidos nós que aos poucos se desatam.
Reviver pessoas ou conhecê-las (e reconhecê-las) é algo como possibilitar a existência de mais uma face. É descobrir-se vivo.
Por outro lado, tenho perdido muitos entes queridos, seja de forma física ou não. Isto também é descobrir-se vivo.
A urgência da vida parece estar presente nas perdas e ganhos.
Pois do todo complexo, acabamos por abstrair o essencial.
Ou como diz a letra de uma das faixas de nosso mais recente CD, escrita por Valquíria, a certa altura: "Eterna esperança/Não pessoa qualquer/Vive morre vira lembrança/Plural homem mulher/Pessoa comum", em resumo, sinto que a síntese de nós, aqui de passagem, no frenético movimento da vida, é viver, morrer e virar lembrança. Afinal, somos pessoas comuns em todo nosso potencial diferencial.
Resta-nos saber, sempre, onde reside essa lembrança...
E isto também me fez recordar de um trecho de Eclipse, de Valquíria: "(...) A gente se vê/Por aí a qualquer hora./O tempo inexiste/E pra quem nisso crê/Tudo é sem demora/Que importa que diste?".
RENATA IACOVINO, escritora, poeta e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br /reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br
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