Papéis, papéis, papéis... fui uma colecionadora ávida de papéis. De tudo quanto é tipo.
Rascunhos, com rabiscos, cartões, cartas, grande, pequeno, amassado, postais, revistas, artigos, jornais, cópias do que me interessasse e eu não podia ter o original, envelopes, livros, livros, livros, cadernos, álbuns, fotografias, programas e ingressos de espetáculos, gibis, certificados, diplomas, encartes de discos, caixas, selos, bilhetes...
Seria possível escrever minha história por meio deles. Organizá-los numa linha do tempo e atiçar a memória com tantas passagens que talvez, se deixar só por conta da cabeça, não seja possível lembrar de forma nítida.
Mas, tais objetos físicos necessitam de espaço. Ao contrário do que vivenciamos hoje, que nossas lembranças, nossa história, boa parte do que possuímos ou somos, nada disto requer espaço... Pelo menos não o espaço palpável, passível de ser olhado.
Voltando à linha do tempo, muitos desses contadores de história não existem mais. Em algum momento, com o coração apertado ou lágrimas nos olhos, eles se foram... rasgados, amassados, queimados, doados. Principalmente quando tivemos que sair da casa para um apartamento. Muito de mim se foi ali.
Curioso imaginar que, embora o apego a essas criaturas mágicas sempre tivesse existido, eu os via como algo assim... sem vida.
Hoje, quando de um lado vejo tudo ser arquivado virtualmente, e do outro os resquícios de uma história contada em papéis de verdade, parece que estes são tão próximos de mim que chegam a criar um laço afetivo. Penso que isso nem seja ruim, dada a falta de afetividade que anda nos cercando.
Claro que guardar bilhetes, rascunhos, declarações, confissões e demais minúcias de uma vida, é típica de quem tem um perfil sentimental, romântico, nostálgico. E creio, também, de alguém que sempre amou as palavras e aquilo que é possível vermos brotar delas.
Adorava abrir uma gaveta aqui, outra ali, e vê-las abarrotadas de papéis, de pequenos objetos... de um enredo maravilhoso!
Depois essas gavetas foram sendo abertas com menos frequência... mais adiante o amarelado começou a pintar as folhas, os jornais. E quanto mais isto acontecia, mais eu sentia que valor ali havia.
O que guardamos hoje em dia, guardamos sem tocar. Porém, o que vale é a memória que conseguimos manter disso que temos.
RENATA IACOVINO, escritora e cantora / reiacovino.blog.uol.com.br /http://reval.nafoto.net / reiacovino@uol.com.br
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