Morar parte da semana em São Paulo nos surpreende, às vezes, não só por tristes histórias.
Por trás desta selva de pedra há um respiro de humanidade que nos faz suspirar de alívio.
Dividir a sala com várias pessoas de segunda a sexta-feira nos faz rir e chorar. E às vezes até ao mesmo tempo.
Foi assim que adentrou a sala, logo cedo, uma de minhas colegas: rindo e chorando, no afã de contar a aventura há pouco vivida.
Como muitos de nós ainda fazemos (até que algo de ruim aconteça), ela saiu do metrô Marechal e imediatamente pegou o celular para fazer uma ligação. Quando colocou-o no ouvido, um homem de bicicleta passou e o arrancou de sua mão e... tchau!
Desesperada, começou a gritar, xingar, em vão. Saída de uma experiência recente de perda de outro aparelho celular, com fotos que nunca havia baixado, perdendo todo seu conteúdo, o desespero se tornava maior ao pensar que ia pagar a segunda parcela deste, então, novo aparelho.
Restando-lhe apenas o caminho em direção ao trabalho, envolta às lágrimas, no meio do quarteirão de uma rua onde havia optado por pegar, um taxista foi parando ao seu lado e indagou se era dela um celular que acabara de ser furtado, ao que a moça respondeu positivamente, sem entender o que estava acontecendo.
Ele abriu uma das mãos e mostrou-lhe o dito cujo. Disse o taxista - que naquele momento estava dando plantão como anjo - que observava o movimento e viu que todos passavam por ela, mas que o tal rapaz de bicicleta ficava para trás, não fazendo a ultrapassagem, o que fez com que o motorista desconfiasse... Vendo, pois, a cena, correu atrás do larápio e resgatou o celular de minha colega.
Os detalhes de como isso se deu, claro, ela nem lembrou de perguntar, mesmo porque, era o que menos importava naquele momento.
O único gesto que conseguiu ter foi o de abraçar o taxista. Ao narrar isto para todos nós, presentes na sala, foi uma risada em uníssono, tendo em vista que ela é uma pessoa dada a poucos carinhos.
Imbuída do espírito de gratidão, decidiu que compraria chocolates e procuraria o taxista no dia seguinte. Após uma semana, andando com a caixa de chocolates pelo caminho percorrido cotidianamente, não teve sucesso, não o encontrou. O jeito foi ela mesma dar cabo da caixa de chocolates, mas ainda com a esperança de reencontrá-lo.
RENATA IACOVINO, escritora e cantora / www.facebook.com/oficialrenataiacovino/
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