Em meia à selva de pedra existem, ainda, algumas esperanças incrustadas em meio a tijolos, entre uma pedra e um resto de mato, por entre galhos de árvores. Há um pouco disso tudo na concretude diária.
Pequenas paisagens que fazem respirar nossos olhos e nos dão um alento dentro do círculo vicioso de nosso cotidiano, plantam surpresas que nos fazem lembrar que isto que cá estamos a levar chama-se vida.
E uma vida caiu, talvez de um ninho construído em uma das árvores que fica numa espécie de jardim cercado e ajuda a tirar a ausência de beleza de um prédio daquela rua.
Em meio à rotina de papéis, computador, café, carimbos, impressora, ar condicionado e pessoas, alguém surge trazendo, com todo cuidado que o caso requer, uma ave pequenina, um filhote.
Diante da ação que, por si só, já nos transmuta do universo real para o universo da sensibilidade, boa parte dos que ali estavam não restaram impassíveis. A mobilização para manter aquele pequeno ser com vida parecia algo instintivo, necessário, inevitável.
Enquanto uma ligava para o veterinário para saber o que podia ser dado para alimentar o bichinho, o outro já providenciava uma caixa com algodão ou algo do tipo, dentro. Uma outra foi atrás de água e de uma pipeta. Em pouco tempo a ração foi comprada e com muita paciência, um pouco de comida e água, misturadas, eram dadas no biquinho do bebê.
E ao observar, ao longo do dia, aquele serzinho, tão frágil, e já dando voltinhas e fazendo suas necessidades, perguntei-me (mais uma vez!) que diferença há naquela vida e na nossa... na nossa de ser humano. Por que aquela vida, aos olhos de muitos, vale menos do que a nossa?
Bem, enquanto essa questão não se resolve, a questão premente era que destino dar à avezinha.
Uma colega, já tendo se utilizado desse serviço, responsabilizou-se por encaminhá-la a uma Divisão localizada dentro de um dos parques da cidade, que cuida de animais silvestres, e que oferece, dentre outros serviços, atendimento veterinário e reabilitação.
Para lá foi levada nossa amiguinha e ficamos sabendo que é uma andorinha.
Estamos todos na torcida de que ela esteja bem e tenha condições de alçar seu voo no momento certo. Em breve teremos notícias dela. A vida está presente onde nossos olhos, quase por um milagre, acabam alcançando, sem esperar.
RENATA IACOVINO, escritora e cantora / www.facebook.com/oficialrenataiacovino/
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