Mamãe era alegre e brincalhona. Sua presença risonha contagiava os ambientes que costumava frequentar, era solidária às amigas e aos colegas de magistério. Sempre praticou em silêncio a caridade para com os necessitados. Inúmeras foram as instituições a que ela se dedicou voluntariamente. Trabalhou na Secretaria de Educação e supervisionou a qualidade da merenda escolar nas escolas de Jundiaí, durante a gestão do Prefeito Walmor Barbosa Martins. Prezava a família e fazia o que podia por todos nós.
Lembro-me do orgulho que sentíamos quando diziam, lá vem Mariinha, vejam que linda! Sim, mamãe era linda por fora e por dentro. Adorava a casa em que morou e onde passou seus últimos dias. Apreciava as flores de jardim, sobretudo as murtas e as azáleas plantadas por meus avós. Em tempo de manga, as crianças da vizinhança faziam a festa no quintal. Da velha paineira, depois de a paina ser recolhida e cardada, pedia que a levássemos ao convento e ao asilo, para as freiras encherem os novos travesseiros, que eram batizados com aromas de alecrim, lavanda, hortelã, erva-doce e camomila.
Todo final de ano separava aquilo que seria doado aos bazares da cidade. Quantos bibelôs e badulaques foram entregues às quermesses das igrejas de Amparo. No Carnaval, usava fantasias exóticas, que ela mesma as criava. Colecionava recortes de revista, gostava dos álbuns de fotografia e amava enviar e receber cartões de Boas-Festas. Não suportava sapato apertado, e dizia que salto muito alto tira a elegância da mulher. Bolsa, só pequena, do tamanho necessário para o batom, o lencinho de renda perfumado e para caber no bolso do paletó de meu pai.
Na Páscoa, mamãe enfeitava a escada de casa com coelhos de louça e escondia ovinhos de chocolate nos lugares mais inusitados. Certa vez meus filhos os acharam pendurados no lustre da sala. Em tempos juninos decorava as janelas com bandeirinhas coloridas. No Natal amarrava a guirlanda e sininhos na porta de entrada e não perdia uma apresentação de orquestra e coral. Tudo era alegria. Quando nasceram os netos, enquanto os carregava no colo, olhava no espelho para se ver como avó. Acreditava piamente na fonte da juventude. A vinda do bisneto deixou-a exultante, mas não chegou a cantar parabéns em seu primeiro aniversário, ou, quem sabe, cantou com os anjos. Mamãe tinha um orgulho danado da prole e nós também o tínhamos dela. Que Nossa Senhora das Candeias ilumine seu caminho para que nos abençoe e proteja.
SÔNIA CINTRA - ESCRITORA E PROFESSORA UNIVERSITÁRIA.
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