Nasceu Jesus! Vinte e cinco de dezembro é comemorado o aniversário mais importante do mundo! Todos cantam, se abraçam, comem, bebem e esquecem as agruras entre momentos de confraternização junto aos familiares. Tudo iluminado pelo faiscar de luzes coloridas.
Mas, e Jesus? A figura principal, o aniversariante, estará participando da ceia? Estará habitando os corações das pessoas? Será que receberá o mais lindo presente da humanidade que há séculos registra a vontade de Deus: Amar ao próximo como a ti mesmo? Guerras entre irmãos, desavenças familiares, solidão entre muitos, orgulho ferido, muralha fria que impede o perdão, idosos esquecidos, solidão dos enfermos, infância abandonada e sem destino, vítimas da guerra onde irmão mata irmão! Como seria bom se todos pudessem ter um Feliz Natal, desde o menino abandonado por entre caminhos da África, até as crianças de rua, nas incontáveis manjedouras debaixo dos viadutos, por entre as gretas frias da umidade da solidão brasileira! Quantos irmãos passam a grande noite envoltos em papelão, tendo por cobertor o grande e fiel amigo, o cão!
Deveria ser um Feliz Natal para todos, se a corrupção não existisse, se legalizado não fosse o desvio de verbas, se o pão de cada dia de milhares de brasileiros não fosse depositado na Suíça! Poderia ser um Feliz Natal, se as leis fossem respeitadas e a justiça pelo menos por um momento retirasse a venda dos olhos e olhasse para a realidade do povo brasileiro. Seria um grande Natal para todos, se os trabalhadores, os grandes e verdadeiros torturados na luta pela sobrevivência, também fossem valorizados! Que maravilhoso seria se pudéssemos ouvir o coro natalino deste imenso Brasil, de norte a sul, de leste a oeste, a cantar Noite Feliz, numa comunhão de respeito e dignidade. Neste Natal, imperativo lembrar do vergonhoso cartão postal brasileiro: a menina, moradora de rua, tomando banho na poça de esgoto, além de lembrar das crianças da Somália morrendo de fome, da mãe que tendo a fonte de seu leite ressequida nada mais tem a oferecer ao filho que inerte pende em seus braços!
Quando na ceia do Natal for colocado o peru luzidio e saboroso sobre a mesa farta, agradeça com humildade o grande presente de Deus para sua família e imagine a legião dos esquecidos, sinta ainda o brilhar intenso da lágrima, que tal um diamante, desce brilhante e quente pelas faces de milhares de abandonados a saborear apenas a dor da fome, além de um amargo bocado de injustiça!
Afinal, peru recheado de quê?
Feliz Natal!
VALDEREZ DE MELLO - Professora, Advogada, Pedagoga, psicopedagoga. Autora de:
Lágrimas Brasileiras e Trama e Urdidura.
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