Espanta-me quando, pouquíssimas vezes, andando por aí, algum jovem desconhecido me cumprimenta.
Caso o faça formulando uma frase, tanto mais impressionada fico. Felizmente impressionada pelo gesto; infelizmente pelo mesmo tanto me impressionar.
A cada dia que passa, as novas gerações, tão conectadas!, mais se desconectam não apenas da cordialidade implícita nas relações humanas, na socialização em si, mas, no fazê-lo elaborando mais do que duas palavras. Sobretudo quando essas são de fato palavras e não o que delas se vem fazendo, seja pelo imediatismo seja pelo deslumbramento com a novidade.
Até pela raridade do cumprimento em si, já me alegro a um simples “e aí?”, que na verdade se escreve “e aeeeehhh?”. Isso quando escrever for inevitável, pois, escrever nos dias de hoje é... como direi? Nem sei como... fogem-me as palavras...
Fogem-nos as palavras na mesma medida em que fogem seus significados. E, nisso, sua utilidade. E sua diversidade. Pra que tanto variar, se tudo dá no oco.
Sim, no oco. Pois, ninguém – de qualquer geração – quer ouvir.
“As pessoas não querem ouvir a sua opinião. Elas querem ouvir a opinião delas saindo da sua boca.”. Essa frase facilmente “viraliza” na internet, mas, como tantos outros textos, mais se espalha do que propriamente contamina.
Palavras ainda há e muitas. No entanto, seu poder transformador... hummm... esse vem desaparecendo... desaparecen... desap...
Comecei esse artigo citando jovens desconhecidos, porque os conhecidos naturalmente deveriam cumprimentar-se entre si e a nós, os mais velhos, por respeito, por hábito, por força do hábito.
Ocorre que se nem sequer os hábitos têm agora força... quem dirá esses outros substantivos aí... tão abstratos quanto abstraíveis. À falta de palavra que compreenda a força faltante às palavras que nos restam... criam-se novas. Quantos elas durarão... quem sabe?
Dia desses, durante minha corrida matinal diária, um rapazinho que eu nunca tinha visto, bastante suado, não conseguindo exprimir-se de outro modo – à falta de fôlego – levantou a mão direita, sorrindo. Eu pude ler “bom dia!”.
Só não pude, por minha vez, retribuir senão com um sorriso, identicamente pela falta de fôlego – de emoção!
Valquíria Gesqui Malagoli, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br
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