Penso que a engrenagem que faz girar a roda da vida e, portanto, movimenta esse mundão... seja o mundo paralelo de histórias que nesse aqui se tem pra contar. Histórias que, portanto, a gente conta. Histórias que, lá e cá, se cruzam.
Cada um tem sua versão, uma de outra às vezes bem inversa, do mesmo acontecimento.
Ah, os pontos de vista!!! Quanto, não raro, um do outro dista!!!
Melhor nem entrar no mérito das histórias que, em paralelo do paralelo, não se conta(m). Nem a gente delas fala, nem elas próprias de si.
A gente fica calado, fechado que nem um coco, como se diz.
Isso (do coco) se pode dizer. O que o coco guarda... isso nem pensar.
Isso vai além do que diz a letra da canção, sucesso do Capital Inicial, quatro vezes você: “O que você faz quando/ Ninguém te vê fazendo/ Ou que você queria fazer/ Se ninguém pudesse te ver”.
Vai além, porque o que se faz, sim, é possível esconder do outro. Já o que se pensa... isso até de si mesmo é possível esconder.
Será?
Será que a gente é tão fingido a ponto de contar pra si mesmo uma lorota dessa proporção?
Você quer a resposta dissimulada ou a verdadeira?
Seja qual for sua resposta (expressando fielmente ou disfarçando seu querer) eu posso fingir também a minha. Podemos, ambos, em prol de uma suposta segurança, mentir a torto e a direito.
E, ambos, isto posto, fingimos acreditar.
Isso faz a roda girar. E a brincadeira assim não para nunca.
Pode ser bacana. Podemos nos divertir até...
Até o bacana virar babaca. E a gente perceber que de tão forte a brincadeira já está fraca.
E a gente não engana mais ninguém. E a gente começa a quebrar os espelhos da casa. Ou a gente muda de casa. Vai morar numa caixa.
Caixa de Pandora?
A caixa que não é caixa, e, sim, um jarro. E que, então, no próprio nome já não se dá a conhecer como de fato é.
Fato esse que é história, antes, estória. Invenção contrastando a realidade. Contrariando-a não, mas, um esforço fictício no intuito de ilustrar o real. Algo assim. Só que diferente disso.
Onde é que vamos parar?
Oxalá não paremos jamais. Embora sem saber aonde iremos dar.
E quando em dado lugar (onde iremos dar), possamos dar de nós algo de bom. Quiçá, ao menos, uma boa história pra contar.
Valquíria Gesqui Malagoli, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br
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