“Parafins, gatins, alphaluz, sexonhei da guerrapaz/ Ouraxé, palávoras, driz, okê,/cris, espacial/ Projeitinho, imanso, ciumortevida, vivavid/ Lambetelho, frúturo, orgasmaravalha-me Logun/ Homenina nel paraís de felicidadania:/ Outras palavras”.
Toda malabarística criatividade de Caetano Veloso é ainda incapaz de expressar quão versáteis podem ser as palavras.
Por um lado, há palavras que confortam, palavras que estimulam, palavras que elucidam, palavras que traduzem ou tentam traduzir.
Noutra ponta desse lápis plural estão as palavras que ludibriam.
Fato é que a palavra tudo pode, embora não caiba a ela controlar-se.
Portanto, pode quase tudo!
E quase tudo podendo ei-la em seu fascínio mor: oferecer-se a quem a domine.
Seu poder está, pois, no jugo com que outro a manipula. É esse jugo o seu jogo – de sedução.
Seu potencial poder mora nas possibilidades práticas com que nos dá chegar ao (técnica ou supostamente) impossível.
Se há então algo manipulável com todas as letras é a própria: a palavra.
Com ela eu concebo. Com ela eu mato.
Dela me nutro, ou ela me poda.
Uma palavra me incita a abrir boca, bolso, coração, enquanto palavra distinta me cerra lábios e espírito.
Posta em boca de qualquer um, palavra é poupança. Rende juros e perjuros.
As fofocas estão aí para comprovar quão rentável pode ser um predicado; quão substancial um substantivo, enfim, de quantos recursos pode se valer uma língua comprida no fazer e desfazer amizades, por exemplo.
Um bom diz-que-diz cresce na medida da má língua que o inventou.
Mal-entendidos indissolúveis nascem de mentirinhas sem querer.
Assim, dizer “eu te amo” não significa amar. Dizer “o que é que há?” não compreende ouvir. Dizer “boa sorte” não traz à luz desejos escusos. Dizer “o que vale é a intenção” é uma mentira deslavada, um esconderijo para o comodismo; o que conta é a atitude!
Quase tudo que se diz, diz-se da boca para fora.
Escolhêssemos a sinceridade à esperteza, a palavra seria verdade.
Fôssemos espertos de verdade, diríamos só a “Palavra prima/ Uma palavra só, a crua palavra/ Que quer dizer/ Tudo/ Anterior ao entendimento, palavra” (Chico Buarque).
VALQUÍRIA GESQUI MALAGOLI, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br / www.valquiriamalagoli.com.br
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