Passamos por ruas repletas de bares e demais estabelecimentos graciosos.
O público na maioria jovem mais ainda embelezava o lugar.
A paisagem foi mudando até chegarmos ao nosso destino.
Pessoas de notadamente menor poder aquisitivo tomavam cerveja e jogavam conversa fora ouvindo música alta.
Eu não consigo em palavras expressar o quanto me diverti naquela noite!
Terminado o show, a banda guardava e carregava os equipamentos.
A bargirl, cujos cabelos elogiei tão logo vi, me tomou pela mão...
– Gostei de você. Quero que veja isso... é um lugar secreto.
A escada estava um breu. Ela saiu à cata de uma lanterna enquanto eu me afligia um tanto pelo receio, e me excitava outro tanto pela curiosidade.
Ajudadas pela luzinha improvisada, chegamos ao último degrau. Dali do topo, ela exclamou:
– Olha só isso; não é incrível???
Vendo-a, deslumbrada como se pela primeira vez estivesse ali, com seus braços estendidos cada um apontando para uma ponta, e com as mãos que abria e fechava fruindo o ventinho gelado, eu só consegui levar minhas mãos à boca e murmurar:
– Uaaau! Que demais!! O que é isso???
– Não falei? Não é mesmo?
Qualquer pessoa diria “não messsmo! é somente a laje, com coisas entulhadas por todos os lados, encostadas nas muretas que eu suponho seja a ideia de elevar-se aqui um dia um cômodo”.
Qualquer pessoa diria isso. Eu, noutro momento da vida, o diria também.
Acontece que haja vista a mágica eu só enxergava, acima, um baita céu tão forradinho de estrelas!!! e, abaixo, as pessoas às quais ela ia chamando e morrendo de rir, posto que feito boba cada uma delas procurava em vão donde vinha sua voz.
Qualquer pessoa, inclusive eu noutra época, teria dado de ombros. Aquela eu, no entanto, olhando ombro à frente... ombro atrás... via a outra eu sentada de ouvidos bem abertos escutando a história da menina tão nova já com um filho, separada, tentando se acertar no emprego e na vida.
Tão novinha e já tão sabida. Não sabida pela forma como conduza ou não sua existência. Sabida pelo tanto que nada sabendo a respeito sobretudo do efeito de seu simples gesto (o qual se soubesse talvez calculasse e tudo desse errado) me encheu de estrelas o céu de uma resistente esperança.
Valquíria Gesqui Malagoli, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br
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