PAZ - Blogue luso-brasileiro
Sábado, 14 de Abril de 2018
VALQUÍRIA GESQUI MALAGOLI - GOSTO, DESGOSTO...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Gosto, desgosto, carta, convite, casamento” ou “gosto, desgosto, carta, encontro, convite, casamento”.

Manipulávamos o jogo de forma a escolher a própria sorte conforme a pretendêssemos, durante a contagem de urubus bem acima de nossas infantes cabeças de vento.

...

Acabo de ver dois. Ainda há sorte a ser-me lançada?

Destina-se a mim novo desgosto?

Ou a esta altura da vida – à meia idade – toda sorte de azares já se imputou?

Isso sim é que seria desgosto definitivo: não haver luz no fim do túnel.

Sou menos pessimista do que isso.

Um tantinho menos pelo menos.

Olho para os meus filhos e sou toda expectativa! Que maior sorte pode existir?

Adultos que ora são, é sua a vez de pensar no futuro.

            Meu presente são eles, e não poderia, em hipótese alguma, suceder melhor.

            Aqueles dois urubus que vejo estão a passeio; não me trazem recado. Querem tão somente voar livres, muito embora presos, por sua vez, à sorte dos ventos.

            Mas, vão lá... batendo asas de quando em quando, com seu voo característico que muito bem os distingue de outros pássaros.

            Lembro-me que, quando mais moça, os apontava aos meus então pequenos. Eles abismavam: “e como é que a senhora sabe que não são gaviões?”.

            Ai, ai... que delícia aqueles dias! Que aulas tomávamos juntos em vista dos voos sobre nós!

            Lado a lado, analisávamos as particularidades dos movimentos, dos pousos, das decolagens, da dimensão do bando, de seus cantos, chamados...

            Dias outros são estes.

            Enquanto absorta observo as aves, a filha administra sozinha os medicamentos sem carecer de supervisão.

            O mais velho passa mensagem via celular: “ficou meio duro o arroz (o primeiro que fez em nova residência), mas não estava ruim não”.

            É preciso, definitivamente, estar atenta aos sinais. Porém, não viver deles.

            Viver a vida mesmo. Agarrá-la em substância concreta, apesar dos abstratos inerentes.

            Simplesmente porque ela passa.

Talvez, aliás, na minha idade, as coisas soem já mais passadiças, porque a gente as sabe efêmeras.

            Fim de semana passado, no carro, estiquei para trás o braço. Ela de pronto deu-me sua mão.

– Lembra, filha; lembra filho, que quando vocês eram pequeninos a mãe sempre fazia isso?

– Mãe, você faz até hoje! Responderam em duo.

Talvez eu me agarre às suas mãos... como às lembranças.

 

 

 

Valquíria Gesqui Malagoli, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br



publicado por Luso-brasileiro às 19:10
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