“Por que você não faz assim?”; “por que você não faz assado?”...
Faz-se ouvidos moucos para não ser indelicado, mas, a bem da verdade, a vontade é de, perguntando também, responder: “assim ou assado, por que você não faz?”.
Sugestão todo mundo tem. Mãos à massa quem quer levar???
Há um precipício entre a beleza da ideia e o gosto da concretização.
Sim, porque concretizar é, em si, um gosto que quem só idealiza jamais provará.
Uma delícia que não está no projeto.
Um gozo que o pensar não garante.
Ou seja, um prazer proibido aos preguiçosos, aos delirantes, aos viajandões, cuja solicitude está sempre à língua sem jamais descer aos braços.
São outros os braços que, literalmente, carregam o piano.
São outros os braços e pernas que movem, que transpõem montanhas.
Tem gente que é só garganta, que é só da boca pra fora, que não sabe da missa a metade, que come mortadela e arrota peru...
Falar é fácil. Por isso mesmo é que tanto se fala.
Cada um na sua.
Em se tratando de fazer arte... comum, não!, comum não, fácil!, aliás, facílimo (e nem sempre o mais fácil é o melhor caminho) é falar que para atrair público é fundamental haver coquetel.
Tem que haver coquetel!
Tem que haver “comes e bebes” para que haja público em eventos.
Não tem problema que o programa seja meia-boca. Afinal, havendo uma boquinha pra se fazer... é ou não é?
Estamos todos muito mal, amigos. Das duas uma: ou fazemos muito mal a nossa arte – todos nós, artistas... ou a barriga consagrou-se o termômetro do paladar de todos nós, público.
Estamos muito, muitíssimo mal. A ver navios...
Há de haver navios onde embarcar uma porcaria dessas? Um pensamento dominante e quinquilharesco desse – diminuto, mas pesado; ridículo, mas contagiante.
Ok. Vamos todos tornar ao pão e circo.
E, como é sabido que a semente tem que se plantar em casa, comecemos por dar a nossos filhos apenas doce antes, durante e após as refeições; apenas “sim” a torto e a direito; apenas presentes, presentes, presentes... alegria, alegria, alegria...
Vamos dar o que se quer a quem bem o quiser.
Não é assim que se faz ou se deve fazer?
Ah, embaixo assine: Maria vai com as outras.
Valquíria Gesqui Malagoli, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br / www.valquiriamalagoli.com.br
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