Faxinar é um privilégio, entre outros.
Espanando, tiro da estante Roland Barthes: “A ‘inocência’ moderna fala do poder como se ele fosse um: de um lado, aqueles que o têm, de outro, os que não o têm; acreditamos que o poder fosse um objeto exemplarmente político”.
Recordo a adolescência. A juventude e seu jogo de desautorização. Ah, a juventude!, graciosa hora em que desautorizando outrem, tomamos a autoridade inteira só pra gente.
Dizer isso ao jovem, porém, é pedir resposta atravessada, ofendida; é encher-lhes o peito da arrogância de que já já falaremos.
Crescemos...
E descobrimos que, a certa altura da vida, a própria não tem paralelo honesto com a palavra que a denomina, a não ser em comerciais de televisão.
O tempo é o senhor.
E o tempo todo o que se ouve? Que esse aqui é o grande teatro da vida, e que esse mundo é um palco e blá blá blá...
À parte a veracidade do simbolismo, posto que ele é um subterfúgio literário a serviço da língua, e portanto, do que de fato se quer dizer, porque de fato existe... da minha parte e sem fazer cena, sem máscara, digo a plenos pulmões: sem talento algum para a farsa, escolho desvincular-me de tudo que é representação; leia-se “falso”.
Escolha livre e inconteste, amparada na experiência que só o correr dos anos traz.
Escolho-o com o propósito de abrir mão do que é excessivo, do que é arrogância, esta coisa abominável que aprendi com os mais velhos, e, sobretudo comigo mais velha, a abominar!
Escolho, porque escolher é o maior entre os privilégios, e porque eu e alguns de vocês “acreditamos agora que (o poder) é também um objeto ideológico, que ele se insinua nos lugares onde não o ouvíamos de início, nas instituições, nos ensinos, mas, em suma, que ele é sempre uno. E no entanto, se o poder fosse plural, como os demônios? ‘Meu nome é Legião’, poderia ele dizer: por toda parte, de todos os lados, chefes, aparelhos, maciços e minúsculos, grupos de opressão ou de pressão: por toda parte, vozes ‘autorizadas’, que se autorizam a fazer ouvir o discurso do poder: o discurso da arrogância.”.
E porque nem eu nem vocês queremos esse poder no poder.
VALQUÍRIA GESQUI MALAGOLI, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br / www.valquiriamalagoli.com.br
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