“Nascida em Jundiaí,/ hei de morrer, porém,/ sem ser de ninguém,/ nem ser só daqui/ porque se me embrenha/ nesta alma retinta/ o que, embora, eu sinta.../ foge-me qual lenha/ que queima – é carvão!/ E eu sigo sem rumo,/ sem bússola ou prumo.../ sempre em confusão!”.
Versos velhinhos.
É relendo coisas que escrevi e escrevo que penso: quem eu sou? Tudo isso, sim, eu posso, mas, não devo.
E na vida não é o dever quem comanda?
Ah, esse tal dever não é direito.
Enganaram-me. Ou isso... ou não entendi... direito.
Uma coisa é lá na infância lograrem enganar-nos. No entanto, disso a continuidade dá-me espasmos.
Queria ser tal e qual a escandalosa maioria.
Fazer o que, se nem a todos é fácil fingir alegria?
Desde que ser feliz virou ditadura, perdeu a graça.
O engraçado é que, por outro lado, se a gente anda triste, vem um e nos estilhaça.
“Um bicho é a felicidade,/ em constante cio./ Irracional, nos invade,/ e intimida a um pio./ Noutra hora é bicho indefeso,/ que se assusta à toa,/ que a tudo e em todos vai preso,/ e do chão não voa./ Metamórfica, se ausenta;/ ganha asas... Ligeira,/ vendo outro colo, se senta –/ fugaz... passageira...”.
É tanta oferta do que leva a nada que a vontade é de virar avestruz e se esconder.
“O dentro de mim/ é onde quero estar,/ mas ele é um confim.../ não o consigo achar!/ Dizem “fica perto,/ bem da vista adiante”;/ estes vão, decerto,/ de mim, mui distante.../ Saberão quem sou?/ O que quero, e penso?/ Ou são sábios, ou.../ seu juízo é infenso./ Ai, que torvelinho/ é ir, às cegas, só,/ por longo caminho,/ engolindo pó,/ sobre os próprios rastros,/ sem avistar cais,/ tendo, acima, os astros,/ à margem, chacais!”.
Caso eu me encontrasse, quem sabe?... talvez tudo ficasse mais fácil.
Ou caso todo mundo igualmente o obtivesse.
Viveríamos mais na prática, e menos na prece.
Cada um, assim na sua, menos motivo teria pra acusar o outro na rua.
Acontece que, ilusões à parte, querendo ou não, se o inferno são os outros, feliz ou infelizmente, o céu é por ali também.
Falando em outro, outro dia declamei um poema sem título.
Imbuídos de espírito solícito, amigos precavidamente convencionais aconselharam-me a nominá-lo.
“O poema sem nome” ele agora se chama
Valquíria Gesqui Malagoli, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br
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