Em que século estamos mesmo?
Em que mundo?
Gente ainda existe que – sem talento algum – não valorize talento qualquer nem que esse lhe arranhe a cara.
Gente insensível ainda! Incapaz de perceber, mesmo que isso se lhe estampe à frente, que seus quinhentos títulos não lhe outorgam a habilidade de outros, muitas vezes autodidatas, tão mais dispostos a aprender.
Gente que jamais seria autodidata em coisa alguma, haja vista ter perdido a curiosidade infantil e a noção de partilha.
Gente cujos títulos não têm outra serventia que não seja a de ornamentar paredes, estantes, álbuns, juntar poeira...
Gente de saber tão decorativo quanto os diplomas que enumera.
Gente, portanto, que, sem valor, sensibilidade ou disposição ao serviço, não vale mais que poucas linhas, embora seu peculiar assoberbamento valha-nos sempre pelo mote, no caso... o que é talento?
Decerto não é aquilo que atribui a alguém distinção pelo sobrenome ou situação financeira.
Talento é o que nos distingue na realização de algo cujo resultado, não obstante o labor, dá-se com facilidade. Dá-se, por assim dizer, sob as bênçãos de uma mágica consonância. Dá-se, na maneira mais clara que se pode dizê-lo: com naturalidade.
Bill Gates, Alexander Graham Bell, Stanley Kubrick, Woody Allen, Henry Ford, Charles Dickens, Walt Disney, Albert Einstein, Jimi Hendrix, José Saramago, Machado de Assis... nenhum desses notáveis passaria pelo apuradíssimo crivo de uns e outros notórios desconhecidos.
E ainda Steve Jobs, Albert Einstein, Billie Holiday, Confúcio, Edward Elgar, Frederick Matthias Alexander, Friedrich Engels, Georg Philipp Telemann, Georges Brassens, Nikolai Rimsky-Korsakov, Pablo Picasso, Wolfgang Amadeus Mozart...
Sequer o polímata Leonardo da Vinci estaria isento de amargar um torcer de lábios duvidoso, um dar de ombros desdenhoso, isto é, uma inveja daquelas de lascar!, como diria minha avó.
Como diriam minha avó e um sem-número de outras avós, simplicíssimas mulheres, muitas delas iletradas, paupérrimas, sem carreira, cheias de calos nas mãos, bolhas nos pés, facilidades nenhumas e a perder de vista mais dignas e sábias que inúmera gente.
Valquíria Gesqui Malagoli, escritora e poetisa, vmalagoli@uol.com.br / www.valquiriamalagoli.com.br
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